quarta-feira, 19 de março de 2014

Linguagens e Códigos - Aula III

LITERATURA e INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Prof. Sinval Farias


Uma aranha tece cuidadosamente o seu texto como se quisesse nos dizer algo...

Um TEXTO é um tecido verbal organizado possuidor de sentido, ou seja, um conjunto de palavras encadeadas, em forma de frases, orações e períodos, que servem para comunicar. Um TEXTO é, então, uma ocorrência linguística, escrita ou falada de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal, como se vê no Dicionário das ciências da Linguagem de Oswald Ducrot & Tsvetan Todorov.


Um texto, similarmente a uma teia de aranha ou um tecido, é ainda um tipo de manifestação geralmente lingüística, verbal ou não-verbal, de tamanho variável, das idéias de um EMISSOR (autor, falante, pintor etc.) que serão normalmente interpretadas pelo RECEPTOR (leitor, ouvinte, espectador) de acordo com o seu Conhecimento de mundo (CM), ou seja, seu Repertório cultural (RC).

Na nossa concepção, e também na concepção dos grandes estudiosos, TUDO É TEXTO! Um poema é um texto, um romance é um texto, um cartaz é um texto, uma pessoa é um texto, pois TEXTO É TUDO AQUILO QUE COMUNICA. Por exemplo, um estudante com o uniforme do colégio é um texto ambulante. Se em vez de ir à escola ele for ao cinema, fardado, o que as pessoas vão dizer? No mínimo, que ele é irresponsável, que não quer nada com os estudos, que não pensa no futuro. E o que dirão da escola? Que é péssima! Que deixa os alunos desonrarem o nome da escola indo para o cinema no horário de aula. Sabemos também, por meio de textos jornalísticos, que todo ano, em nosso “civilizado” país, jovens têm sofrido violência e até já morrido simplesmente porque estavam usando a camisa do time preferido. UMA CAMISA É UM TEXTO! Gestos são textos, imagens são textos, falas são textos, TUDO É TEXTO.

Observar um pedaço de tecido no microscópio é como ver bem de perto as palavras de um texto.


TIPOLOGIA

De maneira geral, os textos dividem-se quanto à sua tipologia em Verbais, Não-verbais e Mistos. No rol dos textos verbais encontraríamos, por exemplo, os romances de José de Alencar, os contos de Machado de Assis, os poemas de Olavo Bilac, os ensaios de Sânzio de Azevedo ou mesmo os artigos de opinião da prova do vestibular.

Ao grupo de textos não-verbais pertenceriam as obras de Da Vinci, Michelângelo, Magritte e Salvador Dali, por exemplo. Quanto à categoria dos textos mistos, seriam aqueles em que podemos encontrar, ao mesmo tempo, as palavras e as imagens, por exemplo, nas tirinhas da travessa Mafalda e nas campanhas publicitárias da Coca-cola.

Texto VERBAL – Aquele que é construído por palavras, de forma escrita ou falada. Divide-se ainda em:

  • Texto LITERÁRIO – Texto de teor subjetivo, conotativo (metafórico) que tem como maior objetivo causar a emoção no leitor. Ex. romance, conto, crônica, poema etc.

    Exemplo:
Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.


Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto 

E rir meu riso e derramar meu pranto 
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure 
Quem sabe a morte, angústia de quem vive 
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive): 
Que não seja imortal, posto que é chama 
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.


  • Texto NÃO-LITERÁRIO – Texto de teor objetivo, denotativo, que tem como finalidades: informar, criticar, analisar, descrever etc. Ex. artigo, resenha, editorial, bula etc.



Texto NÃO-VERBAL - Aqueles que não são construídos por palavras, mas por imagens, desenhos, símbolos. Ex. charge, placa, símbolo etc.



Texto MISTO – É aquele nos qual encontramos uma fusão do texto VERBAL com o NÃO-VERBAL. Ex. tirinhas, quadrinhos, animes e campanhas publicitárias.



Como nascem os textos?

Os textos nascem de uma linda história de amor. Um dia, as frágeis vogais solitárias encontraram as consoantes. Descobriram, sem muito esforço, que não podiam viver longe uma das outras. Uniram-se. E dessa união tão bela nasceram as sílabas. As sílabas se apaixonaram, e logo nasceram palavras. E a palavra homem amou a palavra mulher. E nasceu a palavra menino. Na verdade, nasceu a frase, com verbo ou sem verbo porque verbo também é palavra, pois antes de tudo era o verbo, e o verbo tornou‐se carne...

Mas as frases também se apaixonam, e do amor bonito das frases surgiram logo os períodos, que se coordenam ou subordinam para formar os parágrafos. E já que falamos de amor, da força dessa palavra, os parágrafos apaixonados, perfeitos e inteligíveis, formaram um dia o texto, que, então, se chamou capítulo, que amou outros do tipo para se transformar em livro. E a palavra livro amou outros livros, e chamou-se biblioteca, um lugar maravilhoso capaz de apaixonar os homens, as mulheres e as crianças num ciclo interminável, pois as palavras nunca morrem, andam na rua ou guardadas, na boca e no coração.
Vicente Jr.


Para Saber Mais

I. Competências e Habilidades de Leitura

O ensino brasileiro vem passando por uma transformação profunda há algumas décadas, à medida que tem procurado pôr em destaque o ensino por competências, em lugar do ensino focado apenas em conteúdos programáticos.

Segundo Perrenoud (2001), “competência é a capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”.

Lino de Macedo (2003) afirma que “uma competência é mais do que um conhecimento”. O autor ressalta que ela pode ser explicada como um saber que se traduz na tomada de decisões, na capacidade de avaliar e julgar.

As competências e a leitura de mundo devem ser entendidas como uma forma de ler mais além de ler um texto, sendo necessário aprender outras linguagens além da escrita. Gráficos, estatísticas, desenhos geométricos, pinturas, desenhos e outras manifestações artísticas, as ciências, as formas de expressão formais e coloquiais, tudo deve ser lido e em códigos e símbolos específicos de decifração (Cereja, 2009).

A competência está atrelada com o “saber fazer”, e as habilidades estão relacionadas com o “como fazer”: como o indivíduo mobiliza recursos, toma decisões, adota estratégias ou procedimentos e opera ações concretas para resolver os problemas. Assim sendo, competência e habilidades são interdependentes do “saber”, mas acabam se completando mutuamente.

No desenvolvimento da leitura e interpretação de textos, a competência leitora se expressa por meio de habilidades de leitura, que se concretiza por meio de operações ou esquemas de ação, como veremos mais adiante.

A competência leitora vai depender da capacidade individual de cada leitor. Quanto maior for sua visão e seu conhecimento de mundo, suas inferências e seu acervo linguístico, maior será sua compreensão textual.

II. Texto e Contexto

Texto
Você provavelmente está acostumado a ver a palavra texto. Mas sabe qual o seu conceito? Para entendê-lo, pense nas duas seguintes situações:
  1. Você foi visitar um amigo que está hospitalizado e, pelos corredores, você vê placas com a palavra “Silêncio”.

  2. Você está andando por uma rua, a pé, e vê um pedaço de papel, jogado no chão, onde está escrito “Ouro”.
Em qual das situações uma única palavra pode constituir um texto?

Na situação 1, a palavra “Silêncio” está dentro de um contexto significativo por meio do qual as pessoas interagem: você, como leitor das placas, e os administradores do hospital, que têm a intenção de comunicar a necessidade de haver silêncio naquele ambiente. Assim, a palavra “Silêncio” é um texto.

Na situação 2, a palavra “Ouro” não é um texto. É apenas um pedaço de papel encontrado na rua por alguém. A palavra “Ouro”, na circunstância em que está, quer dizer o quê? Não há como saber.

Mas e se a palavra “Ouro” estiver escrita em um cartaz pendurado nas costas de um daqueles homens que ficam nas esquinas do centro das cidades grandes que anunciam a compra de ouro? Aí sim, nessa situação, a palavra “Ouro” constitui um texto, porque se encontra num contexto significativo em que alguém quer dizer algo para outra pessoa (no caso, vender/comprar ouro) e, então anuncia isso.

Texto é, então, uma sequência verbal (palavras), oral ou escrita, que forma um todo que tem sentido para um determinado grupo de pessoas em uma determinada situação.

O texto pode ter uma extensão variável: uma palavra, uma frase ou um conjunto maior de enunciados, mas ele obrigatoriamente necessita de um contexto significativo para existir.

Constituindo sentidos

Agora, leia o texto a seguir de modo a aprofundar ainda mais o conceito de “texto”.

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço. Relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia. Água. Táxi, mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.

(Ricardo Ramos, Circuito fechado, Rio de Janeiro, Record, 1978)

Você considera que em “Circuito fechado” há apenas uma série de palavras soltas? Ou se trata de um texto? Por quê?

Na verdade, trata-se de um texto. Apesar de haver palavras, aparentemente, sem relação, numa primeira leitura, é possível dizer, depois de outra leitura mais atenta, que há uma articulação entre elas.

Quando falamos em Mensagem, ou mesmo em Texto, precisamos levar em consideração a palavra Expressão. Desta forma, passamos a entender que num poema, num romance ou mesmo em um quadro existe um emissor que tenta comunicar (exprimir) a alguém (receptor) sua mensagem. No entanto, precisamos entender que a mensagem que se quer passar deve, de alguma maneira, ter corpo (forma) e significar alguma coisa (conteúdo). Chegamos, portanto, ao binômio mais importante de toda forma de expressão: Forma e Conteúdo. Forma – corresponde ao formato do texto (o romance , o poema, o cartaz, o cartoom... ) e sua estruturação, sua gramática, sua coesão, por exemplo.

Conteúdo – é basicamente a ideia, a significação do que é transmitido, a sua coerência.

CONTEXTO

Texto 1

Que notas são essas?


Texto 2



Texto 3



Contexto – Entende-se por Contexto o conjunto de informações Implícitas e Explícitas que acompanham o texto e colaboram com o seu entendimento pelo receptor ( leitor ). Alargando essas noções fundamentais e considerando que existem situações específicas no mundo real (na vida) e no mundo ficcional (nos livros), a seguinte classificação:

  • Contexto imediato – São elementos que seguem ou precedem o texto imediatamente, incluindo circunstâncias reais que o motivam. É a situação comunicativa, momento em que os falantes utilizam o código linguístico.
  • Contexto mediato – Trata-se do contexto estabelecido pelos elementos, normalmente fora do texto, que lhe abrem possibilidades de maior entendimento. Relação entre a situação comunicativa e outros eventos (reais ou ficcionais).
Ajudam a compor o Contexto:
a. O espaço – Lugar onde acontece a situação comunicativa.
b. A adequação – Nível de linguagem ou discurso utilizado. (formal, informal, rebuscada, especial, gíria etc.)
c. A finalidade – A intencionalidade do que é comunicado ou o objetivo do falante já que nenhum discurso é desinteressado.
d. O domínio da língua – Grau de conhecimento que o falante tem da sua língua ou de outra.
e. O tempo – Momento das falas dentro e fora do contexto.
f. O ambiente ou ambientação – Complemento climático, social, ideológico, histórico das falas.
g. Os sentimentos – Estado emocional dos falantes no momento da enunciação.
h. Os valores – Aspectos moralizantes atribuídos ao falante. ( ética, idoneidade, engajamento etc.)
i. As ideologias – Modo de ser ou de pensar específico (politização, socialização, diversidade, multiculturalismo etc.)
j. Os costumes – Traços culturais que envolvem os falantes e a situação.
k. O grupo social – Classe a que pertence o falante.

Saiba mais!
  1. Decodificar é diferente de Decifrar;

  2. É preciso relacionar as intenções comunicativas subjacentes ao texto;

  3. Ler deve envolver o pensamento crítico.
Vídeos


AE 2014 [9/3] - Prof. Sinval Farias - Interpretação textual - parte 1/6



AE 2014 [9/3] - Prof. Sinval Farias - Interpretação textual - parte 2/6



AE 2014 [9/3] - Prof. Sinval Farias - Interpretação textual - parte 3/6



AE 2014 [9/3] - Prof. Sinval Farias - Interpretação textual - parte 4/6



AE 2014 [9/3] - Prof. Sinval Farias - Interpretação textual - parte 5/6

Aguardando...

AE 2014 [9/3] - Prof. Sinval Farias - Interpretação textual - parte 6/6



AE 2013 [8/9] Literatura, parte 1/5


O gigolô das palavras - Luís Fernando Veríssimo

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.

Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.

Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.

Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.

( Luís Fernando Veríssimo )

Para refletir:

No texto, Veríssimo expressa sua opinião de uma forma um tanto quanto humorística. Defendendo e dizendo que a língua deveria se usada de uma forma em que fosse mais fácil a forma de se expressar, não nos tornando tão regrados na nossa língua, deixando de buscar apenas a forma de um texto e focalizando na clareza das coisas ditas. Será que há mesmo uma forma correta de se falar? Com tantas mudanças ao longo dos anos, a gramática vem dificultando até para as próprias pesssoas que usam o idioma se comunicarem da forma "correta". Óbvio que algumas regras são necessárias para que haja um padrão na língua, mas mesmo assim não é problema para quem já a utiliza na sua rotina. Veríssimo faz uma comparação disso tudo com a relação que ele tem com a gramática, igualmente à relação de um gigôlo com seu cliente, pois em ambos os casos a relação é sempre de puro interesse, digamos que totalmente direcionada a busca do prazer, onde fica claro que alguém está servindo alguém. Para ele esta é a real função da língua, ela existe para nos favorecer, vir juntamente conosco, nos ser útil na fala. Luís deixa a informação de que mesmo que leve a vida escrevendo, tem pouquíssima afeto com a gramática, embora ele seja uma das provas de que pode se ter sim comunicação precisa sem termos que seguir todos os preceitos da gramática à risca.


  AE 2013 [8/9] Literatura, parte 2/5


AE 2013 [8/9] Literatura, parte 3/5



Sinonímia, antonímia, polissemia e homonímia.

Sinonímia

É a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que apresentam significados iguais ou semelhantes - SINÔNIMOS.
Ex.: Cômico - engraçado
Débil - fraco, frágil
Distante - afastado, remoto

Antonímia

É a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que apresentam significados diferentes, contrários - ANTÔNIMOS.
Ex.: Economizar - gastar
Bem - mal
Bom - ruim

Homonímia

É a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica - HOMÔNIMOS.

As homônimas podem ser:
  • Homógrafas heterofônicas ( ou homógrafas) - são as palavras iguais na escrita e diferentes na pronúncia.

    Ex.: gosto ( substantivo) - gosto (1.ª pess.sing. pres. ind. - verbo gostar) Conserto ( substantivo) - conserto (1.ª pess.sing. pres. ind. - verbo consertar) • Homófonas heterográficas ( ou homófonas) - são as palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita.

    Ex.: cela (substantivo) - sela ( verbo)
    Cessão (substantivo) - sessão (substantivo)
    Cerrar (verbo) - serrar ( verbo)
  • Homófonas homográficas ( ou homônimos perfeitos) - são as palavras iguais na pronúncia e na escrita.

    Ex.: cura (verbo) - cura ( substantivo)
    Verão ( verbo) - verão ( substantivo)
    Cedo ( verbo ) - cedo (advérbio)
Polissemia

É a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar vários significados.

Ex.: Ele ocupa um alto posto na empresa.
Abasteci meu carro no posto da esquina.
Os convites eram de graça.
Os fiéis agradecem a graça recebida.

Conotação e Denotação

Conotação é o uso da palavra com um significado diferente do original, criado pelo contexto.
Ex.: Você tem um coração de pedra.

Denotação é o uso da palavra com o seu sentido original.
Ex.: Pedra é um corpo duro e sólido, da natureza das rochas

Fonte: http://www.saberportugues.hpg.ig.com.br/semantica.htm

Nem toda palavra é neutra, de uso geral, de significado único e preciso. Isso se deve à conotação. Vejamos algumas ocorrências relacionadas à conotação.

Termos referencialmente sinônimos mas não efetivamente sinônimos.

Vamos considerar os termos 'música sertaneja' e 'música caipira'. Os dois termos apontam para o mesmo referente mas aparecem nos discursos em distribuição complementar, ou seja, nos contextos em que se usa um não se usa outro.

Isso se deve a impressões e opiniões agregadas a cada termo acerca do referente. Quando se usa 'música caipira', fica subentendido que a música é de má qualidade, de baixa índole, etc. Caso se use 'música sertaneja', subentende-se música de boa qualidade.

Palavras com referente mutável contexto a contexto, receptor a receptor Vamos analisar a palavra 'burguês'. Para um historiador, o burguês é o morador do burgo que desencadeia a revolução industrial. Para um marxista, burguês é o explorador da sociedade. Para um adepto da contracultura, o burguês é o símbolo da decadência da sociedade de consumo. O referente é o mesmo para todos os emissores, mas cada um deles agrega à palavra diferentes impressões e opiniões.

Palavras ligadas a dados contextos

Certas palavras só são adequadas ou toleráveis em dadas situações, tipos de discurso, ocasiões. Exemplo: o chulo. Os termos considerados chulos só costumam aparecer em contextos informais, pois somente nesses contextos eles são tolerados. Para contextos formais existem equivalentes próprios.

A palavra é típica de um grupo, região, época ou estilo.

Exemplos: gírias, regionalismos e jargões. Os termos que são marca de um grupo ficam impregnados das impressões e opiniões que a comunidade tem sobre ele. Se as gírias, via de regra, são execradas pela comunidade conservadora é porque a comunidade não aceita o grupo que as pratica e não por execração à gíria em si.

Conceito de conotação

As classes de palavras acima citadas têm características de uso próprias em função de opiniões e impressões a ela aderidas, seja dos usuários em relação ao referente que elas simbolizam ou dos usuários em relação ao subgrupo de usuários que as praticam. Este perfil é a conotação da palavra. Conotação é a resposta a perguntas como: é de uso geral ou restrito a contextos, situações, grupos, épocas, regiões? Que sentido ela assume em dado contexto, para dado grupo? Que juízos, impressões a ela se aderem em função de suas características de uso? Toda vez que uma palavra conotada é usada em situação alheia ao seu perfil típico de uso o resultado é estranhamento, sensação por parte do receptor de uma inadequação, de que algo está errado no discurso.


AE 2013 [8/9] Literatura, parte 4/5



AE 2013 [8/9] Literatura, parte 5/5


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